A MELHOR IDEIA É...
"Entregarei o controlo da minha língua ao Espírito Santo"
Era uma vez numa cidade não muito distante daqui. Vivia, uma senhora já com muita idade. A aparência era de alguém cansada, deprimida... Não queria ver ninguém, vivia sozinha numa casa pequenina e desde há muito tempo que falava em voz alta mas apenas consigo mesma. Os vizinhos no início tinham tentado conversar com ela, motivá-la a tratar-se, procurar ajuda, encontrar alguém que pudesse lhe estender a mão... Mas ela não queria. Preferia ficar ali, a falar sozinha...Era conhecida como Dona Língua.
No fundo da casa de Dona Língua havia uma outra casa, muito maior onde morava a sua irmã gémea, Dona Alma. As duas há muito não se falavam e Dona Alma vivia triste pois achava que o motivo de sua irmã estar assim tão doente era por causa dela. Ela também estava velha, cansada e não conseguia resolver as suas questões com a irmã. E o tempo foi passando e aquele vazio entre as duas irmãs ia aumentando.
Ambas lembravam do tempo que eram jovens. Viviam juntas, onde uma ia a outra estava lá. Dona Língua só falava o que era desejo de Dona Alma. E os desejos eram sinceros, repletos de emoção, afinal Dona Alma tinha encontrado alguém que lhe dava direcção, caminho e salvação. O Espírito. E Dona Alma incentivava a irmã a falar no Espírito. E quando o Espírito sugeria, a Dona Alma se enchia, e a Dona Língua falava. Era uma alegria completa!
Até que certo dia, Dona Alma se entristeceu. Sentiu-se rejeitada, começou a achar que haviam outras que eram melhores do que ela, deixou que alguém muito sorrateira se achegasse e ocupasse a voz do Espírito na vida dela. Era uma tal Sra. Dona Amargura que encheu-a de baixa auto-estima. Aí não foi preciso muito para que Dona Língua que era tão unida a irmã, começasse a falar, a queixar, a murmurar, a lançar fagulhas que fizeram arder toda a vizinhança. E as duas se desentenderam. E envelheceram.
A verdade era que o murmurar de Dona Língua continuava a ser um reflexo da solidão de Dona Alma.
Mas o Espírito que não desiste enviou Dona Graça para com as irmãs conversar e foi ela que, com seu jeito doce e amoroso de ser, convenceu-as num diálogo, a resolverem as suas diferenças. E foi assim que na presença do Espírito, Dona Alma se achegou devagarinho, bateu a porta da casa da irmã e pediu para entrar. Pela primeira vez em muito tempo, Dona Língua se animou. Estava feliz de ver a irmã e quando a outra disse que precisavam conversar, ela assentiu.
- O que aconteceu connosco? perguntou a Alma meio envergonhada.
- Tu eras tão animada, vivia feliz, motivava-me a louvar e cantar. Afirmou a Língua.
- Eu sei. O Espírito dizia-me sempre o que fazer. Era bom ouvi-Lo e obedecê-Lo. Era tão doce ter a minha casa cheia da presença dEle. Respondeu a Alma.
- Ai tu abriste a porta para aquela senhora, a Amargura e pôs-me a falar de coisas que eu não queria. Tu sentaste à mesa com a Tristeza, convidaste as tuas Feridas para fazer morada em tua casa e esqueceste que à medida que te enchias, colocava em mim as palavras que eu não queria proferir. Acrescentou a Língua.
- Eu sei, quando eu vi a casa estava cheia. Era a Tristeza na cozinha a preparar a minha comida, era a Amargura a arrumar-me a casa, era a Rejeição a dar-me aulas de como viver. Reconheceu a Alma.
-E tu nem viste o quanto o Espírito se entristecia! E eu, tão pequenina, acabei por ser motivo de contaminação de todo o teu corpo, além de contaminar tudo a minha volta. Até tentaram me domar, mas ninguém conseguiu. Nenhum ser humano me pode dominar. Disse a Língua.
- É verdade. Porque não eras tu que devias ser dominada, mas eu. Mas sabes, hoje de manhã quando Dona Graça bateu à minha porta e com doçura me falou, eu entendi. Olhei para dentro e vi a verdadeira cara daquelas senhoras que eu permitira acampar dentro de casa. Malignas! Disse a Alma.
- Ela conversou comigo também, e mostrou-me que o Espírito embora entristecido, nunca tinha desistido de nós. Contou a Língua. - E tu sabes que eu só falo daquilo que tu estás cheia. Agora acho que tens uma tarefa que só tu podes fazer.
- Eu sei, só há um que pode ocupar todos os lugares da minha casa. Enquanto o espaço está repleto dEle, não há espaço para ninguém mais entrar. Constatou a Alma.
- E eu se fosse tu, deixava que Ele inundasse a tua casa de tal forma que quando alguém que tu não conheces bater à porta, seja Ele mesmo a deixar ou não entrar. Aconselhou a Língua.
- Ah minha irmã. Quanto tempo perdemos! Reconheceu a Alma.
E foi assim que as duas irmãs reataram a comunhão e rejuvenesceram. As intrusas da casa de Dona Alma foram embora. Agora quem abre e fecha a porta da casa é o Espírito, e ambas descobriram que somente Ele pode dominar o que nenhum género humano é capaz de fazer. E Dona Graça se encantava enquanto a Língua motivada pela alegria da Alma, louvava a Deus em genuína adoração.
Arlete Castro.